Tudo começou com o caminho
novo
Conhecer
o Museu Municipal de Barbacena é conhecer quase 300
anos da formação de uma das regiões mais
importantes de Minas Gerais. Uma história que
começa em 1698, quando o Capitão Garcia Rodrigues
Paes, filho do bandeirante Fernão Dias, abre um
caminho que parte do Rio de Janeiro até a Borda do
Campo. O primeiro núcleo colonial desta imensa
região. Por este Caminho Novo das Minas Gerais, não
só passaram todas as riquezas do Ciclo do Ouro, como
também vários episódios históricos do século
XVIII: o extermínio de nossos índios, a Guerra dos
Emboabas, a Inconfidência Mineira, entre outros.
Cenas da inconfidência
Nada
menos que cinco inconfidentes moravam nos arredores
do Arraial da Igreja Nova de Nossa Senhora da Piedade
da Borda do Campo que, em 14 de agosto de 1791,
tornou-se a Vila de Barbacena. Uma homenagem forçada
ao então governador das Minas Gerais, Luís Antônio
de Castro do Rio de Mendonça (1754-1820), o sexto
Visconde de Barbacena. Foi em Barbacena que, em 11 de
abril de 1789, o Contratador Joaquim Silvério dos
Reis redigiu a carta denunciando o levante. E foi na
rua principal do Arraial que um dos braços
esquartejados do Tiradentes foi exposto para
amedrontar o povo.
Revolução e política
De
muito longe vem a tradiçao politca de Barbacena,
cuja Câmara Municipal participou diretamente do
movimento pela Indepêndência do Brasil. Uma
representação datada de fevereiro de 1822, feita
pela Câmara de Barbacena, antecipa a posição de
Minas favorável ao Fico" de D. Pedro, que
em abril, visita Barbacena e, em setembro, proclama a
Independência. O apoio dos vereadores barbacenenses
ao Imperador é retribuido com o titulo de
"muito nobre e leal Vila de Barbacena,
dado no mesmo decreto que eleva Ouro Preto à
condição de Cidade Imperial. Em 09 de
março de 1840, Barbacena é elevada à cidade. Dois
anos depois, junto com Sorocaba (SP), pega em armas
defendendo a rebelião do Partido Liberal contra o
ministério conservador de D. Pedro II. José
Feliciano Pinto Coelho da Cunha, presidente da
Câmara de Barbacena torna-se governador interino de
Minas e a Guarda Nacional de Barbacena, sob o comando
do Cel. Francisco Alvarenga, marcha para Ouro Preto.
Os liberais saem porém, derrotados em agosto de
1842, pelas tropas legalistas do Barão de Caxias.
Um padre bom de briga
Um
personagem singular na historia de Barbacena é o
padre Manoel Rodrigues da Costa (1754 - 1844),
herdeiro da Fazenda do Registro Velho, posto de
fiscalização fundado logo após a abertura do
Caminho Novo. O padre Rodrigues da Costa era culto e
possuidor de vasta biblioteca. Em sua fazenda
hospedava com freqüência o Alferes Joaquim José da
Silva Xavier e por isso acabou sendo envolvido na
Inconfidência pelo Tiradentes. Mesmo sem ter
participado diretamente da trama, foi preso e cumpriu
pena de exílio na Fortaleza de São Julião, em
Portugal. Lá escreveu livros sobre pessegueiros e ao
voltar para o Brasil, em 1804, tentou retomar sua
fábrica de tecidos no Registro, possivelmente a
primeira do Brasil, segundo John Luccock. Em 1823,
participou como deputado da Assembléia Constituinte
de D. Pedro I e tornou-se Cavaleiro da Ordem do
Cruzeiro. Já bastante idoso, envolveu-se no
movimento liberal de 1842, sendo novamente condenado
e depois anistiado por D. Pedro II. Pouco antes de
morrer em 1844, em depoimento ao padre Marinho,
relembrou sua amizade com Tiradentes, segundo ele,
figura simpática e de boa conversa.
A luta pelo poder
Na
segunda metade do século XIX, Barbacena já mantinha
uma invejável representação política tanto na
Província como na Corte. Camilo Maria Ferreira, o
Conde de Prados, foi deputado da Assembléia Imperial
e chegou a ser governador do Rio de Janeiro, em 1878.
Mariano Carlos de Souza Correia foi cônsul do Brasil
em Portugal, enquanto José Rodrigues de Lima Duarte
foi ministro da Marinha de D. Pedro II. Também era
barbacenense Mariano Procópio Ferreira Laje,
construtor da estrada União-Indústria. Por volta de
1865, instalou-se na cidade, Antônio Carlos Ribeiro
de Andrada, neto de José Bonifácio, o Patriarca da
Independência. Ao casar-se com Adelaide de Lima
Duarte, Antônio Carlos funda o ramo mineiro dos
Andradas. Como hóspede do embaixador Olinto
Magalhães, o Marechal Floriano Peixoto, passou quase
todo o ano de 1891 em Barbacena, já um dos mais
influentes polos republicanos de Minas. Em 1893,
sendo governador Crispim Jacques Bias Fortes, o
Congresso Mineiro reuniu-se em Barbacena para
escolher o local da nova capital do estado. Entre
dezembro de 1892 e maio de 1893, a equipe do
engenheiro Aarão Reis fez nesta cidade os primeiros
estudos para a construção de Belo Horizonte. Em
1930, a Aliança Liberal colocou Getúlio Vargas no
poder. Até então aliados, Bias e Andradas tornam-se
rivais e passam a protagonizar a disputa mais
célebre da política mineira.
Uma cidade de imigrantes
Em 1888
foi criada por D Pedro lI a Colonia Rodrigo SiIva que
tornou-se um dos grandes núcleos de colonização de
Minas Gerais. Diversas famílias italianas chegaram a
Barbacena e ajudaram a transformar a paisagem e a
economia da cidade. O pioneiro italiano Amilcar
Savassi, tornou-se diretor da Colônia Rodrigo Silva
em 1898 dando início em Barbacena à indústria da
seda, com a criação da Estação Sericícola, um
centro de pesquisa e produção, que a partir de
1912, passou a produzir a melhor seda brasileira
durante décadas.
Atenas Mineira
O
prédio da Escola Preparatória de Cadetes do Ar, há
mais de 120 anos tem servido à educação, abrigando
sucessivas escolas de importância nacional. O imenso
casarão, sede da Chácara de Herculano Ferreira
Paes, tornou-se, em 1873, o Colégio Providência. Em
1881, o educador baiano Abílio César Borges, o
Barão de Macaúbas, adquiriu o prédio para nele
instalar o Colégio Abílio, filial mineira da escola
de mesmo nome que funcionava na Praia de Botafogo,
Rio de Janeiro. Em 1888,o Colégio Abílio foi
desativado, sucedendo-o o Ginásio de Barbacena, de
curta duração. Em 1º de dezembro de 1890, o
governador Bias Fortes fez instalar no local o
tradicional Ginásio Mineiro, que ali permaneceu até
1912, quando foi criado o Colégio Militar. Em 1925,
o Ginásio Mineiro, como internato, voltou a ocupar o
prédio que, finalmente, passou a abrigar a EPCAr, em
maio de 1949.
Jornais, telas e livros
Nem
só de política e revoluções viveu Barbacena. Sua
cultura manifestou-se primeiro pelos jornais. O mais
antigo, surgiu em 1835, e chamava-se 0
Parahybuna. Em 160 anos, Barbacena teve
centenas de títulos. Alguns curiosos como O
Mequetrefe (1881), O Estilhaço (1913),
A Sogra (1918). Muitos deles de curta
duração. Outros, como o jornal Cidade de Barbacena
circularam por quase 100 anos. Foi neste e em outros
jornais que o padre José Joaquim Correia de Almeida
publicou muitos de seus célebres versos satíricos.
Também na imprensa barbacenense revelaram-se
talentos como o de Honório Armond, poeta reverenciado por Drummond e Guimarães Rosa. Outro poeta barbacenense, Abgar
Renault, foi
um dos expoentes da literatura mineira e presidiu a
Academia Brasileira de Letras. Nas artes plásticas,
os pintores Alberto Delpino e Homero Massena foram
destaque nas primeiras décadas do século XX. Dois
dos que fizeram o modernismo em Minas, DeI Pino
Júnior, na pintura, e Flausino Vale na música,
também nasceram em Barbacena. Não podem ser
esquecidos dois defensores dos direitos humanos no
Brasil, o jurista Sobral Pinto e a feminista Maria Lacerda de Moura. A partir de 1940, exilado no
Brasil, o escritor francês Georges
Bernanos
mudou-se com sua família para uma pequena fazenda no
Caminho da Cruz das Almas. Em Barbacena, escreveu
clássicos como Le Chemin de La Croix des
Âmes". Poucos anos após a partida de Bernanos, chegou a Barbacena, atraido
pela luminosidade e as colinas da região, o pintor
romeno Emeric Racz Marcier que marcou definitivamente
sua carreira como um dos maiores pintores do Brasil.
Barbacena, rota dos viajantes
estrangeiros
A
partir da chegada da Família Real Portuguesa ao
Brasil, em 1808, e com a abertura dos portos
brasileiros "às nações amigas", uma
incontável legião de viajantes e naturalistas
chegou ao país. Estes estrangeiros vinham em busca
de conhecimento e riquezas. Muitos deles visitaram
Minas Gerais, passando a maioria por Barbacena. James
Fox Bungury, Eschwege, Richard Francis Burton,
Cladcleugh, Spix e Martius, Van Volxen, Hansenclever
e Alcide D'Orbigny são alguns, entre tantos
visitantes, que deixaram preciosos relatos sobre a
pequena Vila de Barbacena.
"Pouco
depois chegamos a Barbacena, lugarejo situado numa
eminência, em região muito fértil e contando com
cerca de 200 casas. Enquanto tomávamos refrescos,
grande número de habitantes veio nos olhar. Nunca
tinham visto ingleses e estavam espicaçados pela
curiosidade de conhecer o fim de nossa viagem."
John Mawe - 1809 -
aventureiro inglês
"Em
Barbacena cobra-se caro ao viajante, o que é
difícil evitar-se porque quando, na minha volta,
nesta intenção pernoitei numa pequena casa de pasto
fora da cidade, verifiquei que tinham triplicado a
minha conta."
Georg Wilhelm Freireyss - 1814
- viajante alemão
"A
grande Igreja da Boa Morte foi construída através
da coleta de esmolas, quer dizer, à medida que se
conseguia juntar o suficiente para se prosseguirem as
obras durante algumas semanas. Mas agora não há
dinheiro, e enquanto isso, os operários
descansam".
Barão de Langsdorff - 1824 -
viajante a serviço do Czar da Rússia
"Barbacena
apresenta aspecto agradável. Vive do comércio, pois
aí é que se encontra o primeiro depósito para a
Província de Minas das mercadorias vindas do Rio de
Janeiro. De cada três casas, uma é venda ou loja e,
entre estas, encontramos algumas que em nada ficam a
dever às do Rio, pois há gente muito rica no
lugar."
Hermann Burmeister - 1853
- viajante alemão
|
Projeto Personagem do Mês Padre Symphrônio Augusto de
Castro
Nasceu em Barbacena a
26 de julho de 1881, onde fez as primeiras letras
até matricular-se no Seminário de Mariana. Ali
completou os cursos de humanidades e teológico.
Terminado o curso, mas
sem idade legal, o bispo D. Silvério Gomes Pimenta
enviou-o para o Colégio do Caraça, para ali
lecionar a cadeira de Português e Latim.
Ordenado padre a 24 de
janeiro de 1904, com 23 anos incompletos, regressou
à terra natal, onde sempre brilhou como orador
sacro, professor e jornalista. Foi o primeiro
capelão da Igreja de Nossa Senhora do Rosário.
Prestou graciosamente seus serviços ao Asilo de
Órfãos de Barbacena durante 18 anos. Foi provedor
da Santa Casa de Misericórdia em 1923, fazendo
notável administração. Padre Symphrônio foi um
dos mais renomados professores do Ginásio
Mineiro, onde
durante anos lecionou a cadeira de Instrução Moral
e Cívica, Filosofia, Latim e Português.
Foi eleito deputado à
Constituinte Mineira de 1935 até 1937. No Parlamento
Mineiro, sua atuação foi de destaque e sua
oratória verdadeiramente notável, pela eloqüência
e erudição.
Era considerado um dos
maiores, senão o maior orador sacro de Minas, ou
mesmo do Brasil.
Faleceu no dia 15 de
junho de 1973 e foi sepultado no cemitério da Boa
Morte, tendo a acompanhá-lo até o Campo Santo uma
verdadeira multidão. Este ilustre barbacenense vive,
porém, na lembrança de quantos tiveram a ventura de
conhecê-lo.
Texto do Prof.
Jorge A. do Nascimento, Coordenador do Museu
Municipal de Barbacena
Outras
biografias já publicadas
Dr. Chrispim Jacques Bias
Fortes
Veja também o site da
Academia
Barbacenense de Letras
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