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Museu Municipal de Barbacena - óleo sobre tela de Paulo Roberto Costa Matos

Praça Conde de Prados, 55
Centro
36200-000 - Barbacena - MG
32-3331-7220 / 3339-2070
fundac@net-rosas.com.br

Na pequena capela da Fazenda da Borda do Campo foi criada a Freguesia de Nossa Senhora da Piedade (1725). Com o aumento da população, foi necessário construir em outro local uma nova igreja. Esta foi concluída em 1764 e, em torno dela, surgiu o Arraial da Igreja Nova.Tudo começou com o caminho novo

Conhecer o Museu Municipal de Barbacena é conhecer quase 300 anos da formação de uma das regiões mais importantes de Minas Gerais. Uma história que começa em 1698, quando o Capitão Garcia Rodrigues Paes, filho do bandeirante Fernão Dias, abre um caminho que parte do Rio de Janeiro até a Borda do Campo. O primeiro núcleo colonial desta imensa região. Por este Caminho Novo das Minas Gerais, não só passaram todas as riquezas do Ciclo do Ouro, como também vários episódios históricos do século XVIII: o extermínio de nossos índios, a Guerra dos Emboabas, a Inconfidência Mineira, entre outros.

Cenas da inconfidênciaEste livro do século XVIII, época de tramas e conspirações, possui caixa secreta, possivelmente de grande utilidade ao inconfidente José Aires Gomes, proprietário da Fazenda da Borda do Campo, e que morreu exilado em 1795, na prisão de Inhambane, na África.

Nada menos que cinco inconfidentes moravam nos arredores do Arraial da Igreja Nova de Nossa Senhora da Piedade da Borda do Campo que, em 14 de agosto de 1791, tornou-se a Vila de Barbacena. Uma homenagem forçada ao então governador das Minas Gerais, Luís Antônio de Castro do Rio de Mendonça (1754-1820), o sexto Visconde de Barbacena. Foi em Barbacena que, em 11 de abril de 1789, o Contratador Joaquim Silvério dos Reis redigiu a carta denunciando o levante. E foi na rua principal do Arraial que um dos braços esquartejados do Tiradentes foi exposto para amedrontar o povo.

Revolução e política

Detalhe de litogravura de Heaton e Rensburg mostrando as tropas de Barbacena diante da Câmara Municipal em junho de 1842.De muito longe vem a tradiçao politca de Barbacena, cuja Câmara Municipal participou diretamente do movimento pela Indepêndência do Brasil. Uma representação datada de fevereiro de 1822, feita pela Câmara de Barbacena, antecipa a posição de Minas favorável ao “Fico" de D. Pedro, que em abril, visita Barbacena e, em setembro, proclama a Independência. O apoio dos vereadores barbacenenses ao Imperador é retribuido com o titulo de "muito nobre e leal Vila de Barbacena”, dado no mesmo decreto que eleva Ouro Preto à condição de “Cidade Imperial”. Em 09 de março de 1840, Barbacena é elevada à cidade. Dois anos depois, junto com Sorocaba (SP), pega em armas defendendo a rebelião do Partido Liberal contra o ministério conservador de D. Pedro II. José Feliciano Pinto Coelho da Cunha, presidente da Câmara de Barbacena torna-se governador interino de Minas e a Guarda Nacional de Barbacena, sob o comando do Cel. Francisco Alvarenga, marcha para Ouro Preto. Os liberais saem porém, derrotados em agosto de 1842, pelas tropas legalistas do Barão de Caxias.

Um padre bom de briga

Um personagem singular na historia de Barbacena é o padre Manoel Rodrigues da Costa (1754 - 1844), herdeiro da Fazenda do Registro Velho, posto de fiscalização fundado logo após a abertura do Caminho Novo. O padre Rodrigues da Costa era culto e possuidor de vasta biblioteca. Em sua fazenda hospedava com freqüência o Alferes Joaquim José da Silva Xavier e por isso acabou sendo envolvido na Inconfidência pelo Tiradentes. Mesmo sem ter participado diretamente da trama, foi preso e cumpriu pena de exílio na Fortaleza de São Julião, em Portugal. Lá escreveu livros sobre pessegueiros e ao voltar para o Brasil, em 1804, tentou retomar sua fábrica de tecidos no Registro, possivelmente a primeira do Brasil, segundo John Luccock. Em 1823, participou como deputado da Assembléia Constituinte de D. Pedro I e tornou-se Cavaleiro da Ordem do Cruzeiro. Já bastante idoso, envolveu-se no movimento liberal de 1842, sendo novamente condenado e depois anistiado por D. Pedro II. Pouco antes de morrer em 1844, em depoimento ao padre Marinho, relembrou sua amizade com Tiradentes, segundo ele, figura simpática e de boa conversa.

A luta pelo poder

Os três governadores barbacenenses: Crispim Jacques Bias Fortes, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada e José Francisco Bias FortesNa segunda metade do século XIX, Barbacena já mantinha uma invejável representação política tanto na Província como na Corte. Camilo Maria Ferreira, o Conde de Prados, foi deputado da Assembléia Imperial e chegou a ser governador do Rio de Janeiro, em 1878. Mariano Carlos de Souza Correia foi cônsul do Brasil em Portugal, enquanto José Rodrigues de Lima Duarte foi ministro da Marinha de D. Pedro II. Também era barbacenense Mariano Procópio Ferreira Laje, construtor da estrada União-Indústria. Por volta de 1865, instalou-se na cidade, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, neto de José Bonifácio, o Patriarca da Independência. Ao casar-se com Adelaide de Lima Duarte, Antônio Carlos funda o ramo mineiro dos Andradas. Como hóspede do embaixador Olinto Magalhães, o Marechal Floriano Peixoto, passou quase todo o ano de 1891 em Barbacena, já um dos mais influentes polos republicanos de Minas. Em 1893, sendo governador Crispim Jacques Bias Fortes, o Congresso Mineiro reuniu-se em Barbacena para escolher o local da nova capital do estado. Entre dezembro de 1892 e maio de 1893, a equipe do engenheiro Aarão Reis fez nesta cidade os primeiros estudos para a construção de Belo Horizonte. Em 1930, a Aliança Liberal colocou Getúlio Vargas no poder. Até então aliados, Bias e Andradas tornam-se rivais e passam a protagonizar a disputa mais célebre da política mineira.

A Inspetoria Regional de Sericicultura, na antiga Colônia Rodrigo Silva, quando em pleno funcionamento.Uma cidade de imigrantes

Em 1888 foi criada por D Pedro lI a Colonia Rodrigo SiIva que tornou-se um dos grandes núcleos de colonização de Minas Gerais. Diversas famílias italianas chegaram a Barbacena e ajudaram a transformar a paisagem e a economia da cidade. O pioneiro italiano Amilcar Savassi, tornou-se diretor da Colônia Rodrigo Silva em 1898 dando início em Barbacena à indústria da seda, com a criação da Estação Sericícola, um centro de pesquisa e produção, que a partir de 1912, passou a produzir a melhor seda brasileira durante décadas.

“Atenas Mineira”

Prédio Principal da Escola Preparatória de Cadetes do ArO prédio da Escola Preparatória de Cadetes do Ar, há mais de 120 anos tem servido à educação, abrigando sucessivas escolas de importância nacional. O imenso casarão, sede da Chácara de Herculano Ferreira Paes, tornou-se, em 1873, o Colégio Providência. Em 1881, o educador baiano Abílio César Borges, o Barão de Macaúbas, adquiriu o prédio para nele instalar o Colégio Abílio, filial mineira da escola de mesmo nome que funcionava na Praia de Botafogo, Rio de Janeiro. Em 1888,o Colégio Abílio foi desativado, sucedendo-o o Ginásio de Barbacena, de curta duração. Em 1º de dezembro de 1890, o governador Bias Fortes fez instalar no local o tradicional Ginásio Mineiro, que ali permaneceu até 1912, quando foi criado o Colégio Militar. Em 1925, o Ginásio Mineiro, como internato, voltou a ocupar o prédio que, finalmente, passou a abrigar a EPCAr, em maio de 1949.

Jornais, telas e livros

Auto retrato de Emeric Racz Marcier (1916-1990) acervo de Jair PereiraNem só de política e revoluções viveu Barbacena. Sua cultura manifestou-se primeiro pelos jornais. O mais antigo, surgiu em 1835, e chamava-se “0 Parahybuna’. Em 160 anos, Barbacena teve centenas de títulos. Alguns curiosos como O Mequetrefe (1881), O Estilhaço (1913), A Sogra (1918). Muitos deles de curta duração. Outros, como o jornal Cidade de Barbacena circularam por quase 100 anos. Foi neste e em outros jornais que o padre José Joaquim Correia de Almeida publicou muitos de seus célebres versos satíricos. Também na imprensa barbacenense revelaram-se talentos como o de Honório Armond, poeta reverenciado por Drummond e Guimarães Rosa. Outro poeta barbacenense, Abgar Renault, foi um dos expoentes da literatura mineira e presidiu a Academia Brasileira de Letras. Nas artes plásticas, os pintores Alberto Delpino e Homero Massena foram destaque nas primeiras décadas do século XX. Dois dos que fizeram o modernismo em Minas, DeI Pino Júnior, na pintura, e Flausino Vale na música, também nasceram em Barbacena. Não podem ser esquecidos dois defensores dos direitos humanos no Brasil, o jurista Sobral Pinto e a feminista Maria Lacerda de Moura. A partir de 1940, exilado no Brasil, o escritor francês Georges Bernanos mudou-se com sua família para uma pequena fazenda no Caminho da Cruz das Almas. Em Barbacena, escreveu clássicos como “Le Chemin de La Croix des Âmes". Poucos anos após a partida de Bernanos, chegou a Barbacena, atraido pela luminosidade e as colinas da região, o pintor romeno Emeric Racz Marcier que marcou definitivamente sua carreira como um dos maiores pintores do Brasil.

Barbacena, rota dos viajantes estrangeiros

Detalhe da aquarela de Johann Morits Rugendas - Vista de Barbacena - 1824 (arquivo da Academia de Ciências da Rússia)A partir da chegada da Família Real Portuguesa ao Brasil, em 1808, e com a abertura dos portos brasileiros "às nações amigas", uma incontável legião de viajantes e naturalistas chegou ao país. Estes estrangeiros vinham em busca de conhecimento e riquezas. Muitos deles visitaram Minas Gerais, passando a maioria por Barbacena. James Fox Bungury, Eschwege, Richard Francis Burton, Cladcleugh, Spix e Martius, Van Volxen, Hansenclever e Alcide D'Orbigny são alguns, entre tantos visitantes, que deixaram preciosos relatos sobre a pequena Vila de Barbacena.

"Pouco depois chegamos a Barbacena, lugarejo situado numa eminência, em região muito fértil e contando com cerca de 200 casas. Enquanto tomávamos refrescos, grande número de habitantes veio nos olhar. Nunca tinham visto ingleses e estavam espicaçados pela curiosidade de conhecer o fim de nossa viagem."
John Mawe - 1809 - aventureiro inglês

"Em Barbacena cobra-se caro ao viajante, o que é difícil evitar-se porque quando, na minha volta, nesta intenção pernoitei numa pequena casa de pasto fora da cidade, verifiquei que tinham triplicado a minha conta."
Georg Wilhelm Freireyss - 1814 - viajante alemão

"A grande Igreja da Boa Morte foi construída através da coleta de esmolas, quer dizer, à medida que se conseguia juntar o suficiente para se prosseguirem as obras durante algumas semanas. Mas agora não há dinheiro, e enquanto isso, os operários descansam".
Barão de Langsdorff - 1824 - viajante a serviço do Czar da Rússia

"Barbacena apresenta aspecto agradável. Vive do comércio, pois aí é que se encontra o primeiro depósito para a Província de Minas das mercadorias vindas do Rio de Janeiro. De cada três casas, uma é venda ou loja e, entre estas, encontramos algumas que em nada ficam a dever às do Rio, pois há gente muito rica no lugar."
Hermann Burmeister - 1853 - viajante alemão

Projeto Personagem do Mês

Pe. Symphrônio de Castro - Foto: acervo da FundacPadre Symphrônio Augusto de Castro

Nasceu em Barbacena a 26 de julho de 1881, onde fez as primeiras letras até matricular-se no Seminário de Mariana. Ali completou os cursos de humanidades e teológico.

Terminado o curso, mas sem idade legal, o bispo D. Silvério Gomes Pimenta enviou-o para o Colégio do Caraça, para ali lecionar a cadeira de Português e Latim.

Ordenado padre a 24 de janeiro de 1904, com 23 anos incompletos, regressou à terra natal, onde sempre brilhou como orador sacro, professor e jornalista. Foi o primeiro capelão da Igreja de Nossa Senhora do Rosário. Prestou graciosamente seus serviços ao Asilo de Órfãos de Barbacena durante 18 anos. Foi provedor da Santa Casa de Misericórdia em 1923, fazendo notável administração. Padre Symphrônio foi um dos mais renomados professores do Ginásio Mineiro, onde durante anos lecionou a cadeira de Instrução Moral e Cívica, Filosofia, Latim e Português.

Foi eleito deputado à Constituinte Mineira de 1935 até 1937. No Parlamento Mineiro, sua atuação foi de destaque e sua oratória verdadeiramente notável, pela eloqüência e erudição.

Era considerado um dos maiores, senão o maior orador sacro de Minas, ou mesmo do Brasil.

Faleceu no dia 15 de junho de 1973 e foi sepultado no cemitério da Boa Morte, tendo a acompanhá-lo até o Campo Santo uma verdadeira multidão. Este ilustre barbacenense vive, porém, na lembrança de quantos tiveram a ventura de conhecê-lo.

Texto do Prof. Jorge A. do Nascimento, Coordenador do Museu Municipal de Barbacena

Outras biografias já publicadas

Dr. Chrispim Jacques Bias Fortes

Veja também o site da Academia Barbacenense de Letras

 

 

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