Posto assim está, entre
revezes.
Dor
da dor, dor da angústia, da tragédia do viver, do
abandono, essa casa há de dizer do lado terrível,
mas também humano. Testemunho da impossibilidade (ou
da possibilidade). Isolados no solo em gélidas
pedras derradeiras, encurralados, feridos, fétidos,
no ermo sem fim das madrugadas, na noturna solidão
dos tempos esses irmãos nos tecem sua face, seu
canto, o grito, a vida. E no silêncio das auroras
nos condoem na tristeza do seu olhar.
Fundo,
abissal na desumanidade, na desolação profunda.
E
irreversível.
Meritória
hora, essa, que resgatam-se fragmentos desse universo
condoído. Para que dele saibamos um pouco, ao menos.
E que a todos nós possa dizer - nos ensinar e
comover - que ele existiu um dia, que seres ali
viveram, olharam parcos e vagos nos vazios e, quem
sabe, se entreolharem doces e puros mesmo nas trevas
e nas desesperanças.
Carlos
Bracher
1996
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Exorcizando uma
tragédia
Inaugurado
no dia 16 de agosto de 1996, o Museu da
Loucura integra um ambicioso plano de resgate
da memória histórica de Barbacena, através
do Projeto Memória Viva - desenvolvido pela
Fundação Municipal de Cultura de Barbacena
- FUNDAC e financiado com recursos da
Prefeitura Municipal de Barbacena. No
Torreão do antigo Hospital Colônia de
Barbacena, hoje totalmente restaurado e
adaptado para finalidades culturais, é
contada uma história de quase um século de
sofrimentos, estigmas e exclusão.
Através
de objetos, documentos, fotografias, sons e
imagens, o Museu da Loucura faz um relato dos
caminhos e descaminhos do tratamento
psiquiátrico estabelecido em Minas Gerais
desde 1900, quando foi criada pelo governo
Francisco Sales a Assistência aos Alienados
de Minas Gerais.
O
Museu da Loucura, resultado de um convênio
entre a Fundação Hospitalar do Estado de
Minas Gerais - Fhemig e a Fundac, nada mais
é que um tributo às dezenas de milhares de
vitimas do lendário Hospital Colônia de
Barbacena.
A
Cidade dos Doidos
Até
o início do século XIX a atenção aos
doentes mentais no Brasil não existia. O
primeiro hospital psiquiátrico do pais foi o
D. Pedro II, no Rio de Janeiro, criado em
1841.
Em
Minas Gerais, eram porões das Santas Casas
como as de São João del Rei e Diamantina
que recebiam os loucos. Em 1900, o governo
estadual criou a Assistência aos Alienados
de Minas Gerais. Sem recursos para construir
seu Hospital Central, o primeiro diretor da
Assistência, Dr. Joaquim Dutra indicou
então a Cidade de Barbacena para sediar o
Hospital utilizando o prédio de um
sanatório particular fechado anos antes.
Durante 30 anos o Hospital Colônia de
Barbacena funcionou de forma aceitável.
Gradativamente veio a superlotação.
Pacientes de toda parte eram abandonados em
Barbacena, chegando às dezenas nos
trens de doidos. Sem estrutura
para receber sua crescente população, o
Hospital Colônia se transformou em um
verdadeiro depósito de rejeitados.
Calcula-se que mais de 60 mil pessoas
morreram aqui.
Em
cinco salas do prédio histórico onde está
o Museu, são mostradas curiosidades como o
primeiro telefone instalado em Barbacena, no
antigo Sanatório, o livro de registros com o
nome do primeiro paciente e ainda descrição
de formas de tratamento e instrumentos usados
nos primórdios da psiquiatria no Brasil.
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