Nasceu
na sede da Fazenda do Engenho, então Município de
Barbacena, proximidades da estação de João Aires,
hoje município de Antônio Carlos, a 20 de julho de
1873. A fazenda era de propriedade de Carlos Pereira.
Seus
pais: o engenheiro Henrique Dumont e d. Francisca
Santos Dumont mineiros de nascimento.
A Estrada
de Ferro D. Pedro II, hoje Central do Brasil,
estendia nesse tempo, as suas linhas através da
então Província de Minas Gerais. Henrique Dumont,
bom engenheiro, contratou a construção de um trecho
da via férrea, mudou-se para Barbacena com a
família.
A casa de
nascimento de Alberto é apontada, pela tradição,
como sendo um pequeno prédio, até hoje existente,
na fazenda de Cabangu, à margem da Central do
Brasil. Entretanto, com o testemunho insuspeito de
contemporâneos de seu respeitável pai, posso
afirmar que Alberto Santos Dumont, nasceu, em
verdade, numa outra casa, mais perto de João Aires,
na atual Fazenda do Engenho, próxima do túnel 27,
hoje propriedade de herdeiros ou sucessores do dr.
Norberto Paes. Por esta ocasião, quando Alberto
ainda era um garotinho, é que o Engº Henrique
Dumont, fez levantar a casa de Cabangu, para ali
residir o mestre-linha Faustino. Quando esta estava
quase concluída, incendiou-se a sede da Fazenda do
Engenho, e, em vez do Faustino ir residir em Cabangu,
quem foi para lá foi o dr. Henrique, com toda a
família, inclusive o pequeno Alberto. Daí a
confusão que se originou quanto ao local de
nascimento do grande inventor. Temos depoimentos
muito convincentes nesse sentido que poderão ser
exibidos aos interessados se assim o desejarem.
No seu
pelejar diuturno, terminada a sua tarefa no então
município de Barbacena, depois de passar por
Valença, no hoje estado do Rio, transfere-se para a
Província de São Paulo, toda a família Dumont. Ali
fez Alberto os seus primeiros estudos, mostrando
sempre os seus pendores para os vôos espaciais,
prestigiados pelas leituras, de Júlio Verne. Certa
manhã (depois de mandar lavrar a escritura de
emancipação de Alberto, quando este tinha apenas
dezoito anos de idade), chamou-o o pai ao escritório
e disse-lhe: Já lhe dei hoje a liberdade; aqui
está mais este capital e entregou-lhe títulos
no valor de muitas centenas de contos. Acrescentou,
em seguida: Tenho ainda alguns anos de vida;
quero ver como você se faz um homem; prefiro que
não se faça doutor; em Paris, com o auxílio dos
nossos primos, você procurará um especialista de
Física, Química, Mecânica, Eletricidade, etc.,
estude estas matérias e não se esqueça que o
futuro está na rnecânica. Voce nao precisa pensar
em ganhar a vida; eu lhe deixarei o necessário para
viver".
Urna vez
em Paris, começa agindo no sentido de concretizar os
seus sonhos. Por essa época, os vôos eram todos
eles à base de ar quente, hidrogênio ou qualquer
gás que. tomasse o balão mais leve que o ar. E
Santos Dumont não queria subir à mercê das
correntes atmosféricas, como havia experimentado, ao
sabor dos ventos, na incerteza do local de pouso.
Depois de
seu balão, Brasil, de forma esférica,
(com o qual subiu ao ar no dia 4 de julho de 1898, no
Jardim da Adimação), mandou construir o A
Música, de maiores dimensões. Por essa
época, o Aero Club recentemente criado,
abriu um concurso de balões para o estudo das
correntes atmosféricas. Apareceram doze
concorrentes, ficando vencedor A Música,
que subiu mais alto e mais tempo se demorou nos ares,
onde manobrou durante vinte três horas.
Pensando
em aparelhos mais adaptáveis à aerostão moderna,
mandou construir outros balões, com formato de
charuto, os quais receberam o nome de
Santos Dumont, munidos de motor a
explosão por ele imaginado. Foi fazendo
experiências com esse tipo de balão e, com o nº 6,
ei-lo disputar o prêmio Deutsch, de cem mil francos,
a 19 de outubro de 1901, o qual, depois de
brilhanteménte conquistado, foi distribuído pelos
pobres e pelos seus dedicados auxiliares. Após
partir do Aero Club, contornou a Torre Eifel, a uns
duzentos metros de altura e voltou ao ponto de
partida em meia hora. Este fato soou no
mundo inteiro, O problema da dirigibilidade aérea
estava definitivamente resolvido.
No
Brasil, onde o patriotismo vibrou, o governo da
República votou o prêmio de cem contos de réis
destinado a galardoar o infatigável moço, que
tomara a peito resolver o problema da dirigibilidade
aérea.
Em 14 de
julho de 1903, evoluiu sobre mais de duzentos mil
franceses com a sua flotilha e desfraldou a bandeira
brasileira, com a legenda por ares nunca dantes
navegados.
Após,
escreve uma carta ao Ministro da Guerra de França,
General André, oferecendo a sua flotilha à França,
na eventualidae de uma guerra, desde que não fosse
contra países da América do Sul, particularmente o
Brasil, nação à qual se via obrigado a servir.
Em
seguida, visita sua pátria (7 de setembro de 1903),
sendo, também ruidosamente recebido em sua
Barbacena, terra natal.
Em 1904,
é nomeado, pelo governo francês, Cavaleiro da
Legião de Honra. Daí por diante, começa a pensar
mais seriamente no mais pesado que o ar.
Consegue
extraordinário êxito com o carburante mineral. E,
em 1906, foi instituído em Paris, então Capitão do
mundo, um prêmio de 3.000 francos para um vôo de 25
metros, ao primeiro aeroplano que se erguesse do solo
por si só. Este fato mostra bem que nunca, até
então, alguém no mundo soubera que homem voara a
motor em aeroplano. Depois de promissoras tentativas,
facilmente, a 23 de outubro de 1906, perante uma
assistência notável, conseguiu novos louros para a
sua gloriosa carreira de aeronauta, após uma
façanha memorável, pela qual foi comentado e
elogiado por toda a imprensa dos continentes,
dando-lhe destaque, entre outras, a inglesa e a
norte-amencana.
Quiseram
roubar a glória de Santos Dumont, afirmando que os
irmãos Wright haviam sido os pioneiros, mas, tempos
depois, quando estes foram fazer demonstrações de
seus aparelhos, estes, para se erguerem do solo
tiveram que ter o auxilio de uma espécie de
catapulta.
Em
verdade, Santos Dumont, é o PAI DA AVIAÇÃO! Outros
engenhos, para diversos empregos, ele inventou.
Santos
Dumont, construiu, após o seu feito com o 14 Bis,
vários pequenos aviões, mas, o que conquistou o
povo francês foi o seu demoiselle,
apelido dado pela própria alma de França
entusiasmada com os êxitos do brasileiro no domínio
dos espaços.
Não
diremos que Santos Dumont fosse um pacifista e nem um
belicista. Foi um realista, em relação ao uso do
avião como arma de guerra.
Teve
várias condecorações, inclusive foi promovido a
cavaleiro da Legião de Honra da França e General
Honorário do Exército Brasileiro.
Em 1931,
quando já havia publicado vários preciosos e
apreciados livros e trabalhos esparsos, foi eleito
para a Academia Brasileira de Letras, não podendo
tomar posse da cadeira respectiva, por falta de
saúde.
Depois de
ter estado internado no Sanatório de Biarritz, pois
não mais identificava-se a si próprio, foi trazido
de novo para o Brasil.
Estávamos
em plena revolução constitucionalista de São
Paulo. Os bombardeiros roncavam a todo instante no
espaço. Sente-se culpado da tragédia por ter sido o
inventor do aeroplano.
É
transferido de São Paulo para Guarujá, em Santos.
Carregava consigo a hereditariedade de sua mãe, d.
Francisca, que em 1902, por neurastenia profunda,
pós termos à própria vida.
Em
Santos, ficou hospedado no Hotel de la Plage, onde
procura um lenitivo, num raro momento de lucidez,
para sua tormenta, um meio de se libertar da vida.
Era o dia
23 de julho de 1932, quando ele desapareceu,
perseguido, no dizer do insigne francês Paul Blanc,
pelos remorsos de ter posto nas mãos dos homens, um
engenho que utilizaram para matar inocentes, e a
melhor maneira que nós temos de pagar a dívida de
reconhecimento que assumimos a seu respeito é
mostrá-lo tal qual ele foi.
Fonte: Personalidades
em Destaque de Altair Savassi - Edição da CMB
- 1988
|