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João Guimarães Rosa

Guimarães Rosa em charge do caricaturista barbacenense Afonso de Siqueira Soares. Publicada originalmente no Jornal do Brasil em 1º de junho de 1974.Guimarães Rosa em Barbacena

Como teria sido o período de Rosa nesta região da Mantiqueira? Quais evidências permaneceram?

Sua rápida passagem por Barbacena ficou marcada pelos amigos que aqui fez: Durval Nascimento, Raul Floriano, Oswaldo Fortini, Honório Armond, A. Moura Araújo, Geraldo França de Lima, entre outros. Residiu no Grande Hotel (atual Edifício Alípio Bonato) e na casa da Avenida Bias Fortes nº 57 (atual Edifício Carolina, propriedade de José Anselmo Oliveira/ Maria Guimarães Barros de Oliveira). Foi uma época difícil para o escritor, mas decisiva, seu divisor de águas.

Sabe-se que Henriqueta, sua cunhada, estudou no Colégio Imaculada Conceição (CIC). Agnes nasceu em Barbacena.

A seguir, um apanhado dos aspectos notáveis de Guimarães Rosa, que vindo para esta região para servir à PMMG, acabou deixando um rastro de luminosa autenticidade.

Mário Celso Rios

Médico em Barbacena

Trecho de uma reportagem do O Globo, de 16-11-1967, sem nome do autor, quando da posse de Guimarães Rosa na Academia Brasileira de Letras, intitulada: Rosa, Autor Mundial, Hoje na Academia Brasileira:

"... Médico, foi exercer a profissão em Itaguara (MG). Eram longas caminhadas a cavalo, para atender os enfermos. A luta contra a morte marcou-o profundamente. Perder um doente era para Guimarães Rosa não uma, mas a própria tragédia. Trocou Itaguara por Barbacena (MG), altos ares. E agora médico da Força Pública. Nessa qualidade participou da Revolução Paulista de 1932. A Polícia Militar mineira abrigava de vez em quando, estrangeiros. Nessa escola rude de idiomas, Rosa confronta o seu saber de diversos falares do mundo, pois é homem que domina o latim, o grego, o francês, o italiano, o inglês, o alemão, o russo, o tcheco, o húngaro, o sueco - faz ainda incursões pelo japonês, o chinês e o vietnamita. Em Barbacena, um amigo, vendo-o afundando naqueles ermos solitários e sabendo-o homem de timbre poliglótico, aconselha-o a fazer concurso para o Itamarati. O moço pobre teria a chance de correr o mundo. Rosa aceita a sugestão e em 1934 ei-lo no Rio, enfrentando as provas do concurso para diplomata e assim ingressa na Casa de Rio Branco".

Nota: Ainda em Barbacena, além de servir nas redondezas, fazia serviços extras para a Fábrica Ferreira Guimarães, dando atestados de saúde física e mental para jovens de quatorze anos que pleiteavam ingressar naquela indústria.

Forjando um Diplomata

Rio de Janeiro, 26 - VI - 934

Meu caro Fortini

Viva!

Acabo de terminar as provas escriptas. Infelizmente, só terça-feira que vem poderei estar ahi. Rogo-te, pois, aguentar firme. E um favor immenso que me estás prestando. Sei que é muito incommodo: mas has de ver que estou jogando o meu destino nesta cartada. E só na tua amizade posso. Rogo-te, alem disso, explicar a situação ao Commandante.

O concurso é tremendo, horroroso! Há dois dias e duas noites que não durmo nada. Nem tiro a roupa do corpo! Estamos reduzidos a 11 candidatos. Manda-me tuas ordens. Do amigo que jamais poderá pagar-te tanta bondade

P.S. Recomendação á Família

O mesmo. Guimarães Rosa

Notas:

1 - Oswaldo Fortini (1901-1975) era médico da PMMG (Policia Militar de Minas Gerais) em Barbacena. Substitui Guimarães Rosa durante o período em que prestava exames para o Itamarati.

2 - A Carta original está manuscrita em papel timbrado com os dizeres: "Fluminense Hotel - Instalações Modernas - Próximo à E.F.C.B. Praça da República 207-209 - Telefones: 4-0730 e 4-0731" Rio.

3 - Foi mantida a grafia original.

11 tópicos sobre mineiridade

A seguir um apanhado das Notas sobre Relações Exteriores, as quais Guimarães Rosa elaborou, quando de sua fase no Itamarati:

1 - Combater a expansividade em todas as suas formas.

2 - De maneira geral é preciso guardar silêncio.

3 -Dominar todos os impulsos.

4 - Não comunicar notícias.

5 - Não transmitir novidades.

6 - “Never explain never complain” (Nunca explicar, nunca queixar).(*)

7 - Não ser afirmativo (dogmático), nem demonstrativo (explicativo).

8 -Não expressar nunca as nossas impressões, especialmente as que resultam das conversações que ouvimos.

9 -Cada exclamação, cada palavra, cada gesto - conservados - aumentam nossas reservas.

10 - Moderar todos os movimentos expressivos dar apenas mui ligeiras mostras de emoção, surpresa, alegria, descontentamento, etc.

11 - Todo gesto desordenado ou toda mostra de agitação rouba-nos algo.(**)

(*) “Nunca se explique, nunca se queixe”, dizia Disraeli (1804-1881), romancista e estadista inglês da época da Rainha Vitória (1819 - 1901).

(**) Fonte: “Anotações de João Guimarães Rosa” - Acervo da Academia Barbacenense de Letras.

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